segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Portugal a caminho da África do sul...o prometido é devido






Meus amigos,

Faltam poucos dias para sabermos quem vai jogar contra quem na África do sul e possivelmente em que cidades e estádios vão jogar todas as selecções. Eu não queria deixar de cumprir a promessa que fiz a muitos de vocês que querem vir à África do Sul assistir aos jogos do Mundial.

Por isso, tal como prometido vou passar a publicar no meu blog sugestões de sítios que devem visitar em Joanesburgo, Cidade do Cabo e Durban e deixar-vos algumas recomendações de segurança, que fui aprendendo, ao longo de quase um ano a viver aqui.

A ideia é dar-vos dicas e sugestões de sítios para beberem, por exemplo um bom café expresso (que não é definitivamente a especialidade dos sul-africanos), bons restaurantes, bares, bairros simpáticos, parques naturais, museus e espectáculos que não devem perder. E ainda sugerir-vos sites que vos podem dar algumas orientações.

Antes de vos apresentar as minhas sugestões, vou fazer-vos uma pequena apresentação de Joanesburgo, mais conhecida por Joburg ou Jozi, como carinhosamente os sul-africanos lhe chamam.

Estima-se que em todo mundo, 3 biliões de pessoas assistam aos jogos do campeonato mundial que, pela primeira vez na história, vai ter lugar no continente africano. Como devem calcular vive-se uma grande excitação no país, os sul-africanos sentem uma enorme responsabilidade e estão a esforçar-se para dar o seu melhor. Há centenas de voluntários em Joanesburgo a limparem a cidade, a aprenderem as línguas oficiais do mundial para poderem comunicar com os turistas.

A caótica rede de transportes públicos está a ser melhorada, hotéis, guesthouses e Bed and Breakfasts estão a nascer por todo o lado, e para combater o crime e proteger os turistas o governo sul-africano mandou instalar dezenas de câmaras de vigilância no centro da cidade.

Faltam 191 dias para arrancar o mundial e como já seria de esperar, há muita coisa atrasada. 16 dos 64 jogos e a final do campeonato vão ter lugar em Joanesburgo e a segurança dos jogadores e dos milhares de turistas que se espera que visitem a cidade, são uma das prioridades e preocupações do governo do Presidente Zuma, que quer a todo o custo melhorar a imagem internacional de Joanesburgo, considerada ainda hoje uma das cidades mais perigosas do mundo.

Centenas de polícias e seguranças privados estão a ser treinados para garantir a segurança dos milhões de turistas que se prevê que visitem o país. As empresas de segurança privadas, poderosíssimas num país com um elevado índice de criminalidade, preparam-se para fazer verdadeiras fortunas na altura do mundial, principalmente as que vão ter de garantir a segurança dos jogadores e das suas famílias.

Um amigo meu que esteve há uns meses de passagem em Joanesburgo dizia-me que tinha passado de táxi no centro da cidade e que não teve vontade de sair do carro. Pois bem, a sensação que se tem é mesmo essa: fugir dali o mais rapidamente porque o centro da cidade inspira-nos tudo menos segurança.

Estranhamente ou talvez não, quase não se vêem brancos no centro da cidade. Durante o regime do apartheid os negros tinham passes que eram controlados pela polícia do regime e não podiam circular no centro da cidade, onde apenas viviam e trabalhavam brancos. Depois das primeiras eleições democráticas em 1994, os negros tomaram conta do centro da cidade, centenas de refugiados instalaram-se em prédios abandonados e os brancos fugiram para o estrangeiro ou para os subúrbios a norte da cidade, onde nós moramos.

É claro que durante o mundial, o ambiente da cidade deverá ser bastante diferente do actual, mas isto serve apenas para vos dizer que, ao longo dos últimos anos foram florescendo vários bairros periféricos que vos vou apresentar nos próximos meses, que têm vida própria, lojas, bares, restaurantes e que merecem ser visitados.

Não é fácil circular nesta cidade que goza do estatuto de capital financeira de todo o continente africano. É muito extensa, fica num planalto, a mais de 1700 metros de altitude. Lembrem-se que na altura do mundial será inverno aqui e é normal que se sintam bastante cansados nos primeiros dias por causa da altitude.
O inverno é bastante diferente do nosso. É muito seco, faz sol durante o dia e nunca chove, mas as temperaturas variam entre os 2 graus negativos e os 18 graus num único dia. Descem abruptamente à noite até de madrugada e, de manhã o termómetro começa a subir. Por isso preparem alguns polares e casacos quentinhos na vossa mala de viagem.
Os dias são em geral muito agradáveis, ao estilo do nosso verão de São Martinho, com um céu sempre muito azul e sol. A cidade é uma espécie de pulmão verde e vêem-se árvores e flores por todo o lado.

O skyline de Joburg faz lembrar o de Nova Iorque e não é por acaso que lhe chamam a cidade gémea em África. Além dos arranha-céus e do ritmo frenético da cidade ser semelhante aos de Nova Iorque, há muitas outras coisas que fazem lembrar a big apple.

Quem conhece Nova Iorque, para além do roteiro turístico, sabe que a cultura da cidade é muito diversificada e que, tal como os nova-iorquinos gostam de dizer “in New York, each block makes a difference”. E essa diferença vê-se claramente, apesar da fachada de tolerância e de mistura racial que a cidade ostenta e que serve como imagem de marca da cultura de uma das grandes metrópoles do mundo.

São estes extremos e estes mini habitats sociais que me atraem numa cidade e que dão espaço ao florescimento de culturas extremamente ricas e diversificadas. “Joburg has the same vibe” porque tem essa manta de retalhos muito definida, mas infelizmente essa cultura é muito menos misturada do que em NYC. Aqui cada pessoa tem de perceber onde é o seu lugar e devido à criminalidade torna-se difícil explorar muitos desses habitats sociais e culturais.

Queria só dizer-vos que a sensação de irmos parar de repente a um sítio onde não há pessoas da nossa raça é estranha. À nossa volta notam que somos estrangeiros e nem sempre é uma sensação confortável porque nos sentimos inseguros.

Se pensarem em alugar um carro quando visitarem a cidade, é muito provável que isso vos aconteça com frequência. A mim está-me sempre a acontecer isso e já me vou habituando. A primeira vez que tive uma sensação semelhante foi quando nos mudámos para Nova Iorque em 2004, e vivemos durante quase dois meses no bairro de Harlem, perto do mítico “Apollo Theater”, na 125th Street.

A experiência foi muito interessante e enriquecedora, mas era uma sensação estranha ser a única pessoa branca na carruagem do metro de manhã quando ia trabalhar para a CBS no centro de Manhattan.
Às vezes, sentia que estava a viver dentro de um videoclip da MTv de hip hop, com tipos enormes negros à minha volta vestidos de rappers a dizer “Yo, yo” e a gesticularem freneticamente com as suas correntes douradas e mãos pejadas de anéis, encostados na esquina com um ar de quem não tem nada para fazer, mas está ali a fazer alguma coisa, mas não se sabe bem o quê.

Neste bairro a norte de Manhattan, não circulavam os característicos “yellow cabs” e quando precisávamos de apanhar um táxi, bastava-nos esticar o braço porque alguém parava o carro e negociava connosco o preço da viagem até downtown. Na época, vivíamos num apartamento simpático com 2 divisões e um jardim, que nem ousávamos utilizar, tal era a sensação de insegurança e a vontade de não atrair olhares curiosos. No nosso prédio viviam vários estrangeiros e alguns jornalistas e a nossa rua tinha vários prédios devolutos e entabuados. Um dia um polícia que patrulhava o bairro explicou-nos que estes prédios eram antigas casas onde se vendia craque.

Inicialmente, fascinava-nos a ideia de vivermos num bairro tão diferente da ideia que toda a gente tem e daquilo que conhecíamos de Nova Iorque, mas cedo percebemos que não pertencíamos ali e que, apesar de não nos sentirmos personas-non gratas, tínhamos de nos pirar dali o mais rapidamente possível.

Com o receio de apanharmos com uma bala no meio de um tiroteio de gangs mudámos-nos para um minúsculo apartamento em Upper West Side com dimensões muito mais reduzidas do que o solarengo apartamento de Harlem.

Conto-vos esta experiência porque ela ajudou-me a estar preparada para perceber o que é viver numa sociedade fragmentada, onde os brancos e negros coabitam, têm de conviver mas onde cada cultura tem o seu espaço e rituais próprios.

Em qualquer guia turístico de Joanesburgo que encontrem vão encontrar dezenas de recomendações sobre sítios a não visitar na cidade tal é o medo da criminalidade. Tal como vos tenho contado ao longo dos últimos meses, as histórias que se ouvem são arrepiantes e por isso, com toda a paranóia de segurança que também existe, nunca podemos descurar os hábitos de segurança que lentamente se vão incorporando nos nossos gestos.

Circular a pé no centro da cidade é perigoso mas existem vários bairros na periferia que têm muita animação e onde se circula na boa, sem qualquer stress.

A melhor coisa que o João me ofereceu quando vim para aqui viver foi a Jane, o meu GPS, que com a sua voz suave e pronúncia britânica inspirava-me inicialmente a maior tranquilidade e confiança durante as minhas aventuras de carro pela cidade a circular pela faixa esquerda e a conduzir ao volante à direita. O problema é que a Jane não sabe reconhecer os bairros que são perigosos na cidade e leva-me para todo o lado. Já me encontrei em sítios muito pouco recomendáveis para uma mulher branca e nem sempre foi fácil sair dali.

Para quem tenciona alugar um carro aqui, lembrem-se que o carjacking acontece com muita frequência e que vão mesmo precisar de um Gps. É muito fácil perderem-se e conduzir do outro lado da estrada faz alguma impressão nos primeiros dias. Mas claro que dá algum gozo fazer transgressões, entrar nas rotundas ao contrário e fazer ultrapassagens pela direita. Para circularem de táxi, recomendo a empresa SAFE CABS +27 86 166 55 66

A UEFA e as autoridades sul-africanas estão a planear ter autocarros para os turistas poderem circular pela cidade. Neste momento a rede de transportes públicos é um caos. Existem pequenas carrinhas combi, a que se dão o nome de táxis (atenção se quiserem apanhar um táxi, utilizem a palavra CAB e não táxi) que não são de todo recomendáveis. A única pessoa que conheço que usa estas combis é uma amiga minha portuguesa que, ao contrário de toda a agente que eu conheço, optou não comprar um carro em Joanesburgo. Talvez por já ter vivido na Nigéria, achou que não era perigoso andar nestas carrinhas suicidas, que são autênticas bombas ambulantes que podem rebentar a qualquer instante, tal é o mau estado de conservação.

Estamos a caminho de Durban onde vamos passar uma semana de férias mas antes de terminar, só vos queria dizer qual a melhor forma de chegarem a Joanesburgo.
É claro que vou ter de fazer publicidade à nossa TAP, porque é a única companhia que tem voos directos de Portugal para Joanesburgo. E com todos os defeitos que possam encontrar na TAP, é também a companhia que tem melhores refeições a bordo (basta ter viajado com outras companhias para perceber isso. Alguém sabe o que é comer bacalhau com natas e uma salada temperada com azeite galo depois de meses de abstinência de comida portuguesa?) e o novo serviço de bordo e os novos aviões trouxeram um enorme conforto e melhorias substanciais nos últimos anos.

A TAP planeia reforçar a sua operação para a África do Sul por causa do Mundial, mas por agora estes são os voos disponíveis:
Lisboa – Joanesburgo 3x por semana - 2ª-feira(saída 18:10/9:35 Joanesburgo), 3ªfeira (saída 18:05 com escala em Maputo/17:05 Joanesburgo) e 5ªfeira (saída 18:10/9:35 Joanesburgo)

Joanesburgo – Lisboa 3x por semana – 3ª feira (saída 11:05/19:40 Lisboa), 4ª feira(saída 08:10 com escala em Maputo) e 6ªfeira (11:05/19:40 Lisboa)
Para viajar para outras cidades africanas, há sempre a possibilidade de apanhar um voo da South African Airways, que é também membro da Star Alliance.

Um beijo a todos e até breve

Madalena

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

I MISS YOU TERRIBLY





Se há coisa que me custa mesmo muito são as despedidas.
Por muitas que já tenha vivido, não há maneira de me habituar.

Ao longo dos meus 33 anos de existência foram muitas as vezes em que tive de me despedir de pessoas, sítios, casas e objectos. Não há dúvida que a despedida que mais me custou foi há dois anos, quando tive de me despedir de vez do meu Pai. A verdade é que ainda não consigo conceber a ideia de viver num mundo físico onde ele já não está. À medida que o tempo passa sinto cada vez mais saudades e cada vez mais falta de o ter por perto. Talvez o processo de luto seja mesmo assim…lento e doloroso.

Nos últimos meses, voltei a passar por vários momentos de profunda melancolia com as dolorosas despedidas que inevitavelmente se cruzaram comigo. Além da partida para a África do Sul, que nos trouxe grande entusiasmo mas também nos deixou muito em baixo, surgiram outras nas últimas semanas. A minha irmã que é assistente de bordo da TAP e que nos vem visitar sempre que consegue um voo para Joanesburgo traz-me sempre uma lufada de alegria cada vez que a vou buscar ao hotel e a trago para nossa casa. Esses dias são vividos com imensa alegria. Estamos sempre na galhofa. Passeamos, conversamos, rimos, brincamos com o Tiago e os dias passam a correr. Depois chega a inevitável hora da partida e aí o caldo fica entornado. Começo a sofrer no dia anterior à despedida e no momento do abraço e dos beijinhos, o queixo começa a tremer e não consigo conter as lágrimas. Pareço uma verdadeira “Madalena arrependida” a chorar baba e ranho.

Os dias que se seguem são de uma intensa melancolia e por mais que me esforce não consigo arranjar maneira de ultrapassar esta sensação. O Tiago anda pela casa à procura da tia Didi e obriga-me a ver vezes sem conta os desenhos animados com piratas que ela lhe traz em português e a fazer os puzzles que ela lhe ofereceu até saber de cor o sítio onde encaixar as peças. Sentado na cadeirinha do carro, olha para o céu e pergunta-me se a tia Didi está no avião. As lágrimas voltam a escorrer pela minha cara e oiço a voz do Tiago: “Mamã, não chores!”. E eu fico ainda mais comovida por ver que o meu rapazinho já está tão crescido.


Na última visita da minha irmã, decidimos fazer um programa diferente. Além dos passeios ao parque dos leões, idas ao teatro e a museus, fomos fazer um curso de mosaicos e fizemos um painel com pedaços de azulejos, pedras e vidros ao nosso Pai e que podem ver na fotografia. Em Portugal, tínhamos o hábito de todos os meses fazer um programa que o nosso querido Pai gostasse, como ir ver um filme que ele gostasse de ver se estivesse vivo, ir visitar um sítio que ele gostasse. Desta vez decidimos fazer-lhe uma prenda personalizada que a Diana colocou no jazigo.

Depois da partida da Diana, vieram outras despedidas. Mudámos de casa porque não nos sentíamos seguros a viver naquela casa enorme junto a um riacho. Houve alguns incidentes de violência e assaltos na rua, que felizmente não nos afectaram directamente mas que nos deixaram ansiosos e com vontade de sair dali.

Apercebemos-nos que a nossa bela casa sem muros, que ficava ao pé do rio estava demasiado exposta e poderia ser um alvo apetecível para criminosos. Tivemos que nos render à arquitectura do medo, visível por toda a cidade. E agora vivemos numa mini-fortaleza, rodeada de muros muito altos, com uma rede eléctrica no topo. Contudo, estamos mais protegidos e a casa é muito simpática e luminosa. Tem um chão de madeira lindíssimo, uma lareira e um pequeno jardim cheio de flores que enchem o espaço de uma mistura de cheiros aromáticos absolutamente deliciosa.
Ao fundo do jardim temos uma pequena piscina de água salgada onde damos uns mergulhos de vez em quando, mas a primavera este ano ainda está bastante fria, o que segundo os locais não é habitual.

Ao longo dos últimos meses tenho conhecido pessoas formidáveis. É curioso como se conhecem pessoas tão facilmente quando estamos longe de casa. Parece que estamos mais predispostos para encontrar amigos porque estamos sozinhos e é como se houvesse uma espécie de atracção.

Conheci a Paula do Porto há uns meses e tive de me despedir dela há uma semana. Foi mais uma despedida dolorosa! Trabalhava na universidade como professora de Português e ainda chagámos a dar workshops de escrita criativa juntas aos alunos de Português da Universidade. Mal nos conhecemos tornámos-nos inseparáveis. Preparávamos aulas juntas, fazíamos jantares com comidinha portuguesa e passávamos horas à conversa. Era tão bom ter alguém com quem falar em Português e com referências culturais e interesses comuns aos meus.

Quando estamos longe de nossa casa e dos amigos, parece que compensamos a falta que sentimos dos amigos, dos namorados e da família e quase que tentamos substituir essa ausência com as amizades que fazemos no novo sítio. É como se de repente essa pessoa que tivemos a sorte de encontrar, passasse a assumir a pesada responsabilidade de substituir todos aqueles que nos são queridos e estão longe. Depois há aquele sentimento comum que partilhamos, aquela sensação de estar deslocado num sítio e os laços de amizade reforçam-se de uma maneira incrível.

A Paula decidiu não renovar o contrato com a Universidade, onde dá aulas de Português e regressar a Salamanca, onde o namorado David a espera ansiosamente de braços abertos. Estou muito feliz por ela mas a partida dela foi mais uma daquelas que me custou horrores. Claro que o tempo é sempre o melhor remédio nestas coisas e talvez não seja por acaso que nós Portugueses sofremos tanto com aquele sentimento genuinamente Português: a Saudade que nós sentimos de uma forma muito especial e sentimental.

Meus amigos não fiquem tristes por não vos escrever mais e-mails e por não vos ligar muitas vezes. Acreditem que este desprendimento é o que torna a minha vida mais fácil e não quer dizer que não estejam todos no meu coração. “I miss you all terribly e com muita saudade.”

beijos

Madalena