sexta-feira, 6 de novembro de 2009

I MISS YOU TERRIBLY





Se há coisa que me custa mesmo muito são as despedidas.
Por muitas que já tenha vivido, não há maneira de me habituar.

Ao longo dos meus 33 anos de existência foram muitas as vezes em que tive de me despedir de pessoas, sítios, casas e objectos. Não há dúvida que a despedida que mais me custou foi há dois anos, quando tive de me despedir de vez do meu Pai. A verdade é que ainda não consigo conceber a ideia de viver num mundo físico onde ele já não está. À medida que o tempo passa sinto cada vez mais saudades e cada vez mais falta de o ter por perto. Talvez o processo de luto seja mesmo assim…lento e doloroso.

Nos últimos meses, voltei a passar por vários momentos de profunda melancolia com as dolorosas despedidas que inevitavelmente se cruzaram comigo. Além da partida para a África do Sul, que nos trouxe grande entusiasmo mas também nos deixou muito em baixo, surgiram outras nas últimas semanas. A minha irmã que é assistente de bordo da TAP e que nos vem visitar sempre que consegue um voo para Joanesburgo traz-me sempre uma lufada de alegria cada vez que a vou buscar ao hotel e a trago para nossa casa. Esses dias são vividos com imensa alegria. Estamos sempre na galhofa. Passeamos, conversamos, rimos, brincamos com o Tiago e os dias passam a correr. Depois chega a inevitável hora da partida e aí o caldo fica entornado. Começo a sofrer no dia anterior à despedida e no momento do abraço e dos beijinhos, o queixo começa a tremer e não consigo conter as lágrimas. Pareço uma verdadeira “Madalena arrependida” a chorar baba e ranho.

Os dias que se seguem são de uma intensa melancolia e por mais que me esforce não consigo arranjar maneira de ultrapassar esta sensação. O Tiago anda pela casa à procura da tia Didi e obriga-me a ver vezes sem conta os desenhos animados com piratas que ela lhe traz em português e a fazer os puzzles que ela lhe ofereceu até saber de cor o sítio onde encaixar as peças. Sentado na cadeirinha do carro, olha para o céu e pergunta-me se a tia Didi está no avião. As lágrimas voltam a escorrer pela minha cara e oiço a voz do Tiago: “Mamã, não chores!”. E eu fico ainda mais comovida por ver que o meu rapazinho já está tão crescido.


Na última visita da minha irmã, decidimos fazer um programa diferente. Além dos passeios ao parque dos leões, idas ao teatro e a museus, fomos fazer um curso de mosaicos e fizemos um painel com pedaços de azulejos, pedras e vidros ao nosso Pai e que podem ver na fotografia. Em Portugal, tínhamos o hábito de todos os meses fazer um programa que o nosso querido Pai gostasse, como ir ver um filme que ele gostasse de ver se estivesse vivo, ir visitar um sítio que ele gostasse. Desta vez decidimos fazer-lhe uma prenda personalizada que a Diana colocou no jazigo.

Depois da partida da Diana, vieram outras despedidas. Mudámos de casa porque não nos sentíamos seguros a viver naquela casa enorme junto a um riacho. Houve alguns incidentes de violência e assaltos na rua, que felizmente não nos afectaram directamente mas que nos deixaram ansiosos e com vontade de sair dali.

Apercebemos-nos que a nossa bela casa sem muros, que ficava ao pé do rio estava demasiado exposta e poderia ser um alvo apetecível para criminosos. Tivemos que nos render à arquitectura do medo, visível por toda a cidade. E agora vivemos numa mini-fortaleza, rodeada de muros muito altos, com uma rede eléctrica no topo. Contudo, estamos mais protegidos e a casa é muito simpática e luminosa. Tem um chão de madeira lindíssimo, uma lareira e um pequeno jardim cheio de flores que enchem o espaço de uma mistura de cheiros aromáticos absolutamente deliciosa.
Ao fundo do jardim temos uma pequena piscina de água salgada onde damos uns mergulhos de vez em quando, mas a primavera este ano ainda está bastante fria, o que segundo os locais não é habitual.

Ao longo dos últimos meses tenho conhecido pessoas formidáveis. É curioso como se conhecem pessoas tão facilmente quando estamos longe de casa. Parece que estamos mais predispostos para encontrar amigos porque estamos sozinhos e é como se houvesse uma espécie de atracção.

Conheci a Paula do Porto há uns meses e tive de me despedir dela há uma semana. Foi mais uma despedida dolorosa! Trabalhava na universidade como professora de Português e ainda chagámos a dar workshops de escrita criativa juntas aos alunos de Português da Universidade. Mal nos conhecemos tornámos-nos inseparáveis. Preparávamos aulas juntas, fazíamos jantares com comidinha portuguesa e passávamos horas à conversa. Era tão bom ter alguém com quem falar em Português e com referências culturais e interesses comuns aos meus.

Quando estamos longe de nossa casa e dos amigos, parece que compensamos a falta que sentimos dos amigos, dos namorados e da família e quase que tentamos substituir essa ausência com as amizades que fazemos no novo sítio. É como se de repente essa pessoa que tivemos a sorte de encontrar, passasse a assumir a pesada responsabilidade de substituir todos aqueles que nos são queridos e estão longe. Depois há aquele sentimento comum que partilhamos, aquela sensação de estar deslocado num sítio e os laços de amizade reforçam-se de uma maneira incrível.

A Paula decidiu não renovar o contrato com a Universidade, onde dá aulas de Português e regressar a Salamanca, onde o namorado David a espera ansiosamente de braços abertos. Estou muito feliz por ela mas a partida dela foi mais uma daquelas que me custou horrores. Claro que o tempo é sempre o melhor remédio nestas coisas e talvez não seja por acaso que nós Portugueses sofremos tanto com aquele sentimento genuinamente Português: a Saudade que nós sentimos de uma forma muito especial e sentimental.

Meus amigos não fiquem tristes por não vos escrever mais e-mails e por não vos ligar muitas vezes. Acreditem que este desprendimento é o que torna a minha vida mais fácil e não quer dizer que não estejam todos no meu coração. “I miss you all terribly e com muita saudade.”

beijos

Madalena

1 comentário:

  1. Querida mana... "when it hurts so much that you can`t breathe thats how you survive..." adoro-te muito...só faltam 20 dias e desta vez não há grande choro quando voltar...viva o Natal! :)

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