segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Parabéns Madiba!



No dia 18 de Julho, a cidade de Joanesburgo entrou em euforia. Nelson Mandela fez 91 anos e os sul-africanos dançaram, cantaram, gritaram e, dedicaram 67 minutos do seu dia, a fazer uma boa acção para celebrar o aniversário de Madiba, o nome carinhoso que lhe chamam e que é também o nome de um famoso chefe do clã Tembu, ao qual Mandela e os seus antepassados pertencem.

Os 67 minutos dedicados a fazer uma boa acção pelo bem da humanidade e do planeta, simbolizaram os 67 anos que Mandela dedicou à luta pela democracia. A iniciativa foi lançada pela Fundação Mandela que espalhou anúncios e posters por todo o país a incentivar toda a gente a comemorar o Dia Mandela, fazendo algo de bom.

Nas favelas e bairros de lata de Joanesburgo foram plantadas 67 árvores. A última foi plantada no bairro do Soweto, onde Nelson Mandela viveu com a ex-mulher Winnie e os seus filhos nos tempos da resistência, e que hoje pode ser visitada pelos turistas.

Por todo o país, milhares de pessoas distribuíram roupa e comida aos mais pobres, leram livros aos cegos, ofereceram cobertores aos sem-abrigo (lembrem-se que aqui é inverno e está muito frio!), plantaram árvores, pintaram escolas e remodelaram casas de crianças orfãs, vítimas do HIV.

Achei que no minímo, também eu teria de prestar uma homenagem ao “grande líder Madiba” e escrever umas linhas sobre este Homem admirável, que se transformou numa das figuras mais respeitadas do mundo e uma referência para todos aqueles que acreditam na democracia.

Há uns tempos, uma amiga minha disse-me que,”Mandela é um daqueles seres humanos, cuja simples existência permite que este país consiga viver em harmonia.” Muito se especula sobre o que acontecerá à África do Sul depois da morte de Mandela.

Hoje, o maior activista do movimento anti-apartheid já não dá entrevistas aos jornalistas e as televisões e agências noticiosas têm casas alugadas em locais estratégicos da cidade para fazerem uma completa cobertura noticiosa no dia da sua morte. Eu sei que parece mórbido, mas este pormenor revela a importância mundial que a figura de Mandela tem. Sinceramente, não faço ideia do que acontecerá a este país na era pós-Mandela. O que sei é que depois de Mandela a África e o mundo mudaram. E hoje dificilmente, conseguimos imaginar um presidente branco a comandar os destinos da África do Sul. Pelo menos, duvido muito que isso possa acontecer nos próximos anos.

Não me recordo de nenhum outro homem que tenha o privilégio de ter pessoas em todo o mundo a cantar-lhe os parabéns. Este ano Aretha Franklin, Steve Wonder, Cyndi Lauper, Morgan Freeman, Alicia Keys e até Carla Bruni cantaram os parabéns a Nelson Mandela. Todos os anos, o dinheiro dos concertos dedicados a Mandela no seu aniversário, reverte a favor das vítimas de HIV, uma das grandes batalhas da Fundação Mandela, num país, onde a sida atinge, segundo os dados do ano passado, 5,2 milhões de pessoas. Barack Obama também não quis deixar de felicitar um dos seus maiores ídolos, enviando uma mensagem que deu a volta ao mundo.

Foi em 1918, no seio da tribo Madiba, na região de Transkei, a sul do país, que Nelson Mandela nasceu. Transkei, a sua terra natal, não podia deixar de vir a representar um importante marco na história da luta contra o apartheid, tendo sido o primeiro dos quatro territórios a proclamar a sua independência em 1976. Apesar de esta nunca ter sido reconhecida internacionalmente. Em 1994, Transkei foi reintegrado na província de Eastern Cape.

O regime do apartheid durou 41 anos. Mandela esteve preso durante 27 anos, depois de ter sido condenado a prisão perpétua por crimes de traição e sabotagem. Grande parte desses anos foram passados na prisão de Robben Island, na Cidade do Cabo.
Foi libertado no dia 11 de Fevereiro de 1990. Tinha então 71 anos e ainda hoje tenho nítida a imagem emocionante de Mandela, com o seu ar sereno e olhos sorridentes a acenar para a multidão que o recebia.

Depois da sua libertação, Nelson Mandela dedicou-se à reconciliação e negociação para alcançar uma democracia multi-racial na África do sul. Recebeu mais de uma centena de prémios de todas as partes do mundo. O mais importante reconhecimento foi a atribuição do Prémio Nobel da Paz em 1993, juntamente com o então presidente sul-africano Frederik Willem de Klerk, o último presidente da era apartheid.
Em 1991, na primeira conferência nacional que o ANC (Congresso Nacional Africano), celebrou legalmente na África do Sul (a organização tinha sido banida em 1960), Mandela foi eleito presidente do ANC.

Em 1994, foi eleito democraticamente o primeiro Presidente negro da África do Sul. Quando terminou o seu mandato em 1999, criou a fundação Mandela que se dedica a causas como a luta contra sida, no país mais afectado pelo HIV em todo o mundo, o combate à pobreza e a defesa dos direitos das crianças.

Na praça Mary Fitzgerald, uma das mais importantes de Joanesburgo, dezenas de artistas de vários países africanos animaram centenas de pessoas que se reuniram ali para cantar os parabéns ao seu querido Madiba.

Mandela agradeceu. Numa mensagem filmada em sua casa, lembrou a todos os sul-africanos que “está nas nossas mãos criar um mundo melhor para todos os que nele vivem. A nossa luta pela liberdade e justiça foi um esforço colectivo. O Dia Mandela não é diferente.”
Parabéns Madiba!

Bibliografia recomendada
By Mandela
Mandela, Nelson. Nelson Mandela Speaks: Forging a Democratic, Nonracial South Africa. New York: Pathfinder, 1993.

Mandela, Nelson. Long Walk to Freedom. The Autobiography of Nelson Mandela. Boston & New York: Little Brown, 1994.

Mandela, Nelson. The Struggle Is My Life. New York: Revised, Pathfinder, 1986. Originally published as a tribute on his 60th birthday in 1978. Speeches, writings, historical accounts, contributions by fellow prisoners.

Outros
Benson, Mary. Nelson Mandela, the Man and the Movement. Harmondsworth: Penguin, 1994. Updated from 1986 edition. Based on interviews by a friend of Mandela since the 1950s.

1 comentário:

  1. Olá Madalena!
    Venho aqui diáriamente ver se há novidades e já estava admirada pela ausência de notícias.
    Valeu a pena esperar porque este post é uma bonita homenagem a quem tanto fez em prol da paz.
    O Tiago está demais...um verdadeiro African spirit:).
    Abraço enorme
    Concha

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